Sobre mim

Meu nome é André e eu sou formado em Direito pela Universidade de São Paulo. 

Durante toda a minha trajetória de vida, sempre estudei em escola pública. Isso por que, meus pais, divorciados desde cedo, não tinham como pagar escolas particulares. Frequentei a Escola Ruy Barbosa e o Colégio Buenos Aires, ambos na Zona Norte de São Paulo. Durante aquela época de colégio especialmente, eu não comia na escola por que não tinha dinheiro e preferia ir de uniforme por que não tinha roupas. As vezes eu ia a pé, pra guardar o dinheiro do ônibus pra poder comer ou comprar algo pra mim. Da Vila Gustavo até Santana, o trajeto era de quase 1h20, 1h30, mas na minha cabeça de 16 anos, R$ 1,50 faziam uma tremenda diferença. 

Esse período me marcou muito e eu me sentia desprestigiado para estudar. Apesar do esforço da direção e de professores, o ensino no colegial não era bom. Aulas vagas eram mais regras do que exceção. Entre os alunos parecia prevalecer a ideia de que era mais bonito ser malandro do que "nerd". Eu me lembro muito mais de jogar futebol na quadra de lá do que das aulas. 

Na época eu pensava em trabalhar na área de desenho, sempre gostei de desenhar. Mas não fazia a menor ideia de como conseguir isso. A internet não era avançada o suficiente para eu pesquisar isso. Não havia google. Estamos falando de 2000 a 2002. Com 16 anos eu tirei a minha carteira de trabalho e passei a entregar currículos. E apesar de ter entregue pessoalmente mais de 100 na época, nenhum lugar me chamou. A maioria queria gente com experiência, mas para ter experiência é preciso trabalhar e eu não achava trabalho. Minha mãe me pressionava para ajudar financeiramente em casa e eu não podia. Quando fiz 18 anos, o Exército me selecionou. E ninguém ia me contratar nessa situação. Eu fiquei cerca de 1 ano e meio entre indas e vindas apenas para saber se iria entrar ou não. Isso porque, depois de algum tempo, eu mesmo já queria entrar, afinal de contas eu ganharia um salário. Felizmente pra minha carreira futura, um dia ofereceram para quem quisesse desistir e eu quis. E segui em frente.

Já depois de dois meses eu arranjei o meu primeiro trabalho, que era um bico fazendo digitações. Isso foi algo que me deixou mais contente e eu estava começando a ganhar melhor, as custas de muitas horas na semana. Infelizmente, parou de repente, e até hoje eu não sei o porquê. Fiquei um tempo sem trabalhar. Entrei na FATEC, mas não gostei do curso, e entrei no Senai em 2005. Curso de Técnico em Artes Gráficas. Lembra que eu falei que queria saber desenhar? Pois é, não tinha nada a ver com o curso. Mas eu fui até o fim e gostei muito do programa. Infelizmente demorei a conseguir um estágio, tanto que no primeiro ano, eu trabalhei como caixa de farmácia durante sete meses, com um salário baixo que pelo menos me ajudava a ajudar em casa. Saí da farmácia e consegui um estágio na área gráfica, que pagava menos ainda que a farmácia, mas pelo menos era na minha área. E por incrível que pareça, foi o emprego que eu mais gostei até hoje.

Fazia a parte de editoração e ajudei tirando fotografias e escrevendo matérias. Depois de algum tempo assumi a identidade visual do jornal e também passei a fazer tirinhas. Eu amava aquilo, mas durou muito pouco. Cerca de seis meses. E eu estava pagando cursinho. Meu maior medo era ter que parar o cursinho. Meus pais não puderam ajudar. E eu já estava pra lá de engrenado nos estudos. Procurei outro trabalho intensamente e feliz eu consegui menos de um mês depois, em uma revista. Mas a revista estava mal das pernas e me pagavam com demora as vezes. Tentaram me pagar metade do que tinha combinado. Isso porque a revista era bimestral, ou seja, queriam me pagar a cada dois meses. Isso quase me fez sair do cursinho mas eu conseguir pagar as mensalidades. Eu tinha uma boa parcial.

Todas as dificuldades que eu passei na minha vida me deram uma "raiva", uma vontade de lutar e mudar as coisas. Eu queria provar pra mim mesmo que eu podia ascender com meus próprios esforços. Ninguém me ajudou a estudar, e as vezes até atrapalharam. Eu felizmente passei, e passei muito bem, no Curso de Direito da USP! Até hoje lembro dessa época de cursinho como uma época gostosa, muito em razão do resultado.

Passar na USP não quer dizer sucesso imediato. E eu tentei durante meses achar um estágio. Lembro que tive que comprar um terno às pressas e esse negócio é muito caro. Os estagiários tem que usar terno, é praxe. Conheci muita gente na faculdades, fiz muitos amigos. Também lidei com pessoas próximas a mim que não acreditaram em mim e até zombavam dos meus sonhos. Eu não sabia muito bem como tratar com isso e me atrapalhou um pouco, por quase 1 ano e meio. Até eu achar um estágio foram cerca de 7 meses. Antes disso eu continuei trabalhando na área gráfica pra me sustentar e ajudar em casa.

Sempre me destaquei no trabalho e procurei me diferenciar. Na primeira revista tinham pessoas bem intencionadas apesar das dificuldades financeiras. Na segunda revista fiquei somente quatro vezes. Até hoje me lembro como fui demitido. Eu só tinha um curso técnico de Artes Gráficas e trabalhava com gente que tinha duas faculdades e um mestrado na Área. O chefe costumava escolher as capas. E depois de algum tempo me ofereceram para tentar fazer capa também. Logo na primeira vez, ele escolheu a minha. E na segunda vez, escolheu a minha também. Comecei a sentir um pouco de frieza e recalque por causa disso e no dia seguinte foram conversar com o meu chefe, justamente a pessoa que tinha aquela "super" formação e foi preterida. E ai eu fui embora porque só tinha "uma" vaga.

Meu primeiro estágio foi em um bom escritório e eu gostei de muita gente lá. A minha primeira chefe era excelente e me ensinou muitas coisas. Uma pessoa extremamente profissional. Eu comecei a me destacar no escritório. Claro, eu não acertava tudo o que eu fazia, mas me esforçava além do normal. Fui trabalhar com outra pessoa e essa pessoa começou a duvidar de mim e a querer botar a banca em cima de mim. Eu estava apenas no primeiro ano da faculdade ainda. Tentou me impor coisas que iriam me atrapalhar os estudos na faculdade e eu neguei. Ai puxaram meu tapete, apesar de eu ouvir de gente la dentro que falou querer trabalhar comigo.

Durante 4 anos e meio eu estagiei. Estagios que não pagavam bem, mas eu não tinha muita escolha. Precisava me sustentar. As dificuldades economicas não diminuiram na faculdade. Eu de um lado aprendi bastante, e de outro, isso me tirou o foco dos estudos um pouco, mas continuei bem. Lembro que ouvia colegas falando de intercâmbio e viajar pra fora do país, e eu que ainda tinha que lidar com comprar roupas, tirar o atraso da saúde e ajudar em casa. Já falei que terno é caro? Pois é.

Desde o começo eu sempre quis trabalhar com direito internacional e eu tentei me focar nisso durante a faculdade. Pouco me desviei disso - eu gostei de estagiar com direito civil, mas a minha paixão pra DIN voltou logo. Eu queria entrar pra diplomacia, era o meu objetivo. Mas eu tinha que estudar inglês. Se nem inglês eu tinha direito, como eu poderia sonhar com isso? Eu gastei umas férias inteiras estudando inglês em 2011.

Em 2010 eu fui Representante Discente na Faculdade. E ainda naquele ano, eu prestei um concurso para trabalhar no Tribunal de Justiça de São Paulo. Eu seria chamado dois anos depois, foi quando finalmente eu pude ter mais estabilidade na minha vida. Já era o último ano.

Quando comecei a me tocar que poderia fazer intercambio, eu já estava no fim da faculdade e não tinha dinheiro. Isso me deixou um pouco triste. Mesmo com bolsa eu não poderia ir, afinal, tinha que comer, pagar passagens, entre outros gastos. O que eu fiz eu pude, as custas de um empréstimo: fiz um curso de um mês de inglês nos Estados Unidos, em San Diego, na Califórnia. Até hoje eu me lembro com amor daquela cidade fantástica que eu ainda quero voltar. Aquele mês eu fiz muitos amigos excelentes e melhorei muito meu inglês.

Eu fui chamado para trabalhar no TJ no último ano. Eu estava me preparando para ir morar sozinho, apesar dos custos dessa cidade caríssima que é São Paulo. Justo quando pensei que a minha vida estava finalmente se acertando, minha mãe veio a falecer subitamente, naquele 8 de dezembro, dia da minha formatura. Foi um choque pra mim e para meus irmãos, e para toda a família. Eu não tive tempo de sentar e chorar e sentir o que aconteceu. Eu assumi as contas da casa e fui desenrolando os processos e outras questões dela. Ela deixou muita coisa para trás e até hoje eu lido com isso. São implicações financeiras, processuais e até os sonhos dela. Muita coisa eu não tive coragem de jogar fora ainda.

Felizmente eu fui promovido no Tribunal de Justiça e a vida começou a se acertar. Foi quando eu comecei a me planejar para o que eu estou fazendo hoje. Mas ainda de forma tímida. Muita gente me ajudou nesse período.

As coisas pareceram correr mais rápido desde então. A ficha finalmente caiu pra mim e eu tive um pouco de depressão. Fui promovido novamente, felizmente, e foi ai que eu decidi prestar este Mestrado em Genebra. Aconteceu de eu ser chamado. Se eu tivesse tido uma trajetória mais fácil, certamente poderia pagar esse curso todo sozinho. Mas a vida não é como a gente planeja sempre. Eu não me arrependo de quase nada, tudo me deu experiência e me tornou o que eu sou hoje.

Esses tempos eu estudo loucamente línguas. E como me sustentar lá. E meu plano é trabalhar com direitos humanos. E criar uma fundação para ajudar os outros a estudarem.

Isso foi um pouco do que eu fui e sou. Obrigado por visitar meu site. E se puder, me ajude com a minha causa. Eu serei eternamente grato. 

Um comentário:

  1. André, você é um vencedor, tenho orgulho de você !

    Também tivemos (sua mãe e seus tios) muitos obstáculos até conseguir algum lugar ao sol, você também vai conseguir !

    Avante guerreiro !

    Tio Reinaldo

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